<div class="c-news__body"> O historiador Robert Paxton passou o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/01/seis-de-janeiro-entrara-para-historia-dos-eua-como-1a-tentativa-de-golpe-no-pais.shtml">dia 6 de janeiro de 2021</a> grudado na televis&#xE3;o. Paxton estava em seu apartamento em Manhattan quando assistiu a uma multid&#xE3;o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/01/insuflada-por-trump-multidao-invade-congresso-e-paralisa-ratificacao-de-biden.shtml">marchar em dire&#xE7;&#xE3;o ao Capit&#xF3;lio</a>, ultrapassar as barreiras de seguran&#xE7;a e depois os cord&#xF5;es policiais e invadir o local. Muitos na multid&#xE3;o usavam bon&#xE9;s vermelhos com <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ezra-klein/2024/10/como-trump-virou-refem-do-radicalismo-do-movimento-make-america-great-again.shtml">a inscri&#xE7;&#xE3;o Maga [sigla em ingl&#xEA;s para &quot;fa&#xE7;a a Am&#xE9;rica grandiosa novamente&quot;, slogan de Donald Trump]</a>, enquanto alguns ostentavam gorros laranja brilhantes, sinalizando sua filia&#xE7;&#xE3;o aos <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/05/eua-condenam-membros-do-grupo-extremista-proud-boys-por-conspiracao-no-6-de-janeiro.shtml">Proud Boys</a>, um grupo de extrema direita. Alguns estavam vestidos como personagens, com roupas camufladas e chifres. &quot;Eu estava absolutamente fascinado com isso&quot;, Paxton me disse quando o encontrei em sua casa. &quot;Eu n&#xE3;o imaginava que tal espet&#xE1;culo fosse poss&#xED;vel.&quot; Paxton, 92, &#xE9; um dos maiores especialistas americanos em fascismo e talvez o maior estudioso americano vivo da hist&#xF3;ria europeia de meados do s&#xE9;culo 20. Seu livro de 1972, &quot;Vichy France: Old Guard and New Order, 1940-1944&quot;, tra&#xE7;ou as for&#xE7;as pol&#xED;ticas internas que levaram os franceses a colaborar com seus ocupantes nazistas e obrigaram a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/franca/">Fran&#xE7;a</a> a enfrentar plenamente seu passado de guerra. <div> <figure> <div class="c-image-aspect-ratio c-image-aspect-ratio--3x2"> <img alt="A imagem mostra um homem falando ao microfone. Ele est&#xE1; usando um terno escuro e uma gravata amarela. Na cabe&#xE7;a, ele usa um chap&#xE9;u preto com a frase &apos;Make America Great Again&apos; em letras brancas. O fundo &#xE9; escuro, destacando a figura do homem.
" class="img-responsive c-lazyload c-image-aspect-ratio__image" width="100" srcset="https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_th.jpg 100w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_xs.jpg 320w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_sm.jpg 480w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_md.jpg 768w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_lg.jpg 1024w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_xl.jpg 1200w, https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_rt.jpg 2400w" src="https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/10/26/1729957566671d0ebeaac56_1729957566_3x2_md.jpg"> </div> <figcaption class="widget-image__subtitle"> O candidato republicano Donald Trump em com&#xED;cio de campanha no Michigan - Anna Moneymaker/Getty Images via AFP </figcaption> </figure>
 </div> Quando <a href="https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/donald-trump/">Donald Trump</a> se aproximou da nomea&#xE7;&#xE3;o republicana em 2016, artigos comparando a pol&#xED;tica americana com a da <a href="https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/europa/">Europa</a> dos anos 1930 come&#xE7;aram a proliferar na imprensa americana. Michiko Kakutani, ent&#xE3;o a principal cr&#xED;tica de livros do The New York Times, foi uma das primeiras a definir o tom. Ela transformou uma resenha de uma nova biografia de Hitler em uma alegoria velada sobre um palha&#xE7;o e um cabe&#xE7;a-dura, um egoman&#xED;aco e mentiroso patol&#xF3;gico com talento para ler e explorar fraquezas. No The Washington Post, o comentarista conservador Robert Kagan escreveu: &quot;&#xC9; assim que o fascismo chega &#xE0; Am&#xE9;rica&quot;. &quot;N&#xE3;o com botas e sauda&#xE7;&#xF5;es,&quot; mas &quot;com um vendedor de televis&#xE3;o&quot;. Em uma coluna para um jornal franc&#xEA;s, republicada no in&#xED;cio de 2017 na Harper&#x2019;s Magazine, Paxton pediu cautela. &quot;Devemos hesitar antes de aplicar este r&#xF3;tulo mais t&#xF3;xico&quot;, alertou. Ele reconheceu que o &quot;cenho franzido&quot; de Trump e seu &quot;queixo proeminente&quot; lembravam &quot;as absurdas teatralidades de Mussolini&quot; e que Trump gostava de culpar &quot;estrangeiros e minorias desprezadas&quot; pelo &quot;decl&#xED;nio nacional.&quot; Estes, escreveu Paxton, eram todos <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/10/kamala-tem-razao-em-ver-tracos-fascistas-em-trump-mas-termo-nao-ajuda.shtml">elementos b&#xE1;sicos do fascismo</a>. Mas a palavra era usada com tanto descuido &#x2014;&quot;todo mundo de quem voc&#xEA; n&#xE3;o gosta &#xE9; um fascista&quot;, disse&#x2014; que havia perdido seu poder de iluminar. Os primeiros fascistas, ele escreveu, &quot;prometiam superar a fraqueza e o decl&#xED;nio nacional fortalecendo o Estado, subordinando os interesses dos indiv&#xED;duos aos da comunidade&quot;. Trump e seus aliados queriam, em contraste, &quot;subordinar os interesses da comunidade aos interesses individuais &#x2014;pelo menos os dos indiv&#xED;duos ricos&quot;. Depois que Trump assumiu o cargo, uma enxurrada de artigos, trabalhos e livros ou abra&#xE7;ou a analogia do fascismo como &#xFA;til e necess&#xE1;ria ou a criticou como enganosa e in&#xFA;til. A pol&#xEA;mica foi t&#xE3;o implac&#xE1;vel, especialmente nas redes sociais, que passou a ser conhecida entre os historiadores como o &quot;debate do fascismo&quot;. Paxton, &#xE0;quela altura, estava aposentado havia mais de uma d&#xE9;cada da Universidade de Columbia, onde foi professor de hist&#xF3;ria por mais de 30 anos, e n&#xE3;o prestava aten&#xE7;&#xE3;o, muito menos participava, dos debates online. O dia 6 de janeiro provou ser um ponto de virada. Para um historiador americano da Europa do s&#xE9;culo 20, era dif&#xED;cil n&#xE3;o ver na insurrei&#xE7;&#xE3;o ecos dos <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/10/cem-anos-depois-da-marcha-sobre-roma-fascismo-continua-influenciando-populistas.shtml">camisas-negras de Mussolini</a>, que marcharam sobre <a href="https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/roma/">Roma</a> em 1922 e tomaram a capital, ou do tumulto violento no Parlamento franc&#xEA;s em 1934 por veteranos e grupos de extrema direita que buscavam interromper a posse de um novo governo de esquerda. Mas as analogias eram menos importantes do que o que Paxton considerava uma transforma&#xE7;&#xE3;o do pr&#xF3;prio trumpismo. &quot;A virada para a viol&#xEA;ncia foi t&#xE3;o expl&#xED;cita e t&#xE3;o aberta e t&#xE3;o intencional que voc&#xEA; tinha que mudar o que dizia sobre isso&quot;, disse Paxton. &quot;Parecia-me que uma nova linguagem era necess&#xE1;ria, porque uma nova coisa estava acontecendo.&quot; Quando um editor da Newsweek entrou em contato com Paxton, ele decidiu declarar publicamente uma mudan&#xE7;a de opini&#xE3;o. Em uma coluna publicada em 11 de janeiro de 2021, escreveu que a invas&#xE3;o do Capit&#xF3;lio &quot;remove minha obje&#xE7;&#xE3;o ao r&#xF3;tulo fascista.&quot; O &quot;<a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/05/trump-se-torna-1o-ex-presidente-condenado-em-acao-criminal-na-historia-dos-eua.shtml">incentivo aberto de Trump &#xE0; viol&#xEA;ncia c&#xED;vica</a> para reverter uma elei&#xE7;&#xE3;o cruza uma linha vermelha&quot;, ele continuou. &quot;O r&#xF3;tulo agora parece n&#xE3;o apenas aceit&#xE1;vel, mas necess&#xE1;rio.&quot; Perguntei a Paxton se, quase quatro anos depois, ele mantinha sua declara&#xE7;&#xE3;o. Cauteloso, mas direto, ele me disse que n&#xE3;o acredita que usar a palavra seja politicamente &#xFA;til de qualquer forma, mas confirmou o diagn&#xF3;stico. &quot;Est&#xE1; surgindo de baixo de maneiras muito preocupantes, e isso &#xE9; muito parecido com os fascismos originais. &#xC9; a coisa real. Realmente &#xE9;.&quot; Paxton disse que o que viu no 6 de Janeiro continuou a afet&#xE1;-lo; tem sido dif&#xED;cil &quot;aceitar o outro lado como concidad&#xE3;os com queixas leg&#xED;timas&quot;. Isso n&#xE3;o quer dizer, ele esclareceu, que n&#xE3;o haja queixas leg&#xED;timas a serem feitas, mas que a pol&#xED;tica de abord&#xE1;-las mudou. Ele afirma acreditar que o trumpismo tenha se tornado algo que &quot;n&#xE3;o &#xE9; obra de Trump, de uma maneira curiosa&quot;,. &quot;Quero dizer, &#xE9;, por causa de seus com&#xED;cios. Mas ele n&#xE3;o enviou organizadores para criar essas coisas; elas simplesmente germinaram&quot;. <div>
 <figure class="gallery-widget-pre"> <figcaption class="gallery-widget-pre__caption"> <a href="https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1804855945366518-convencao-nos-eua-reflete-culto-a-trump-no-partido-republicano" class="gallery-widget-pre__link">Conven&#xE7;&#xE3;o nos EUA reflete culto a Trump no Partido Republicano</a> </figcaption> <a href="https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1804855945366518-convencao-nos-eua-reflete-culto-a-trump-no-partido-republicano" class="gallery-widget-pre__link"> <img alt="Conven&#xE7;&#xE3;o nos EUA reflete culto a Trump no Partido Republicano" class="gallery-widget-pre__photo u-responsive-image c-lazyload" src="https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/07/17/1721246171669821dbd7eed_1721246171_3x2_md.jpg"> </a> </figure> </div> Quando nos encontramos, Kamala Harris acabara de assumir a candidatura democrata. &quot;Acho que vai ser muito complicado&quot;, ele disse. &quot;Se Trump ganhar, vai ser horr&#xED;vel. Se perder, tamb&#xE9;m vai ser horr&#xED;vel.&quot; Ele pensou em uma analogia hist&#xF3;rica adequada, mas teve dificuldade em encontrar. Hitler n&#xE3;o foi eleito, observou, mas legalmente nomeado pelo presidente conservador, Paul von Hindenburg. &quot;Uma teoria&quot;, ele disse, &quot;&#xE9; que se Hindenburg n&#xE3;o tivesse sido convencido a escolher Hitler, a bolha j&#xE1; havia estourado, e voc&#xEA; teria surgido com um conservador comum e n&#xE3;o um fascista como o novo l&#xED;der da Alemanha.&quot; &quot;E acho que isso &#xE9; um contrafactual plaus&#xED;vel, Hitler estava em decl&#xED;nio.&quot; Na It&#xE1;lia, Mussolini tamb&#xE9;m foi legitimamente nomeado. &quot;O rei o escolheu&quot;, disse Paxton. &quot;Mussolini realmente n&#xE3;o teve que marchar sobre Roma.&quot; O poder de Trump, sugeriu Paxton, parece ser diferente. &quot;Parece ter uma base social muito mais s&#xF3;lida, que nem Hitler nem Mussolini teriam tido.&quot; </div>

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Historiador referência em estudos sobre fascismo muda de opinião e se diz alarmado com Trump